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Dicas espertas para não criar uma placenta apegada

(por Maíra Libertad)

  1. Reflita demoradamente e de coração aberto sobre quem são as pessoas que estarão no parto. Você não precisa necessariamente da casa vazia, mas se você está planejando uma grande festa com lista de convidados para o parto, convém parar para pensar nos possíveis impactos dessa escolha. Não existe um número máximo ou mínimo de pessoas que podem estar em um parto, mas é certo que devem estar presentes apenas pessoas com as quais a mulher se sinta à vontade (para gritar, para rebolar, para andar pelada pela casa fazendo sons estranhos, para soltar o bicho interno, para fazer cocô, para vomitar etc.) e que tenham afinidade com as escolhas de parto da mulher. Ter alguém no ambiente que tem pavor de parto ou que acha parto domiciliar uma irresponsabilidade ou que fica rezando em desespero implorando para que todos sobrevivam não é exatamente ideal para que o parto flua bem PARA A MULHER. E se a mulher está se sentindo pressionada, observada, julgada, amedrontada, inibida, a fisiologia do parto pode ser, sim, prejudicada. E parto com interferências ruins (seja de que tipo forem) pode mais facilmente deixar de ser fisiológico e passar a ser patológico, num passe de mágica.

  2. Lembre sempre: O PARTO SÓ ACABA DEPOIS QUE A PLACENTA NASCE, O SANGRAMENTO ESTÁ CONTROLADO E MULHER E BEBÊ ESTÃO ESTÁVEIS. Repita sempre, para não esquecer: O PARTO SÓ ACABA DEPOIS QUE A PLACENTA NASCE. O PARTO SÓ ACABA DEPOIS QUE A PLACENTA NASCE. O PARTO SÓ ACABA DEPOIS QUE A PLACENTA NASCE. Então, até que a placenta nasça, todas aquelas coisas que foram legais no parto (silêncio, privacidade, ambiente tranquilo, pessoas sintonizadas com o momento etc.) têm que ser preservadas. Não dá para mudar radicalmente o ambiente e o clima e esperar que tudo continue funcionando do mesmo jeito. E se a fisiologia não funciona bem, a placenta pode se apegar demais. E nós não queremos isso.

  3. Então, o bebê nasceu? A placenta não? Ainda vale a máxima: “Estamos em parto, não perturbe”. Não ligue para ninguém para avisar do parto antes que a placenta nasça, não chame as visitas, não encha o quarto com pessoas que estavam esperando em outro lugar da casa ou em outro canto qualquer, não saiam todos estourando champanhe e gritando de felicidade. O bebê nasceu, mas o parto não acabou. E a fase do trabalho de parto mais delicada para a saúde da mulher é o nascimento da placenta. Hemorragia e retenção placentária são coisas sérias, com as quais não devemos brincar. Os parentes e a galera do FB entenderão se ficarem sabendo do nascimento do bebê 30 ou 60 minutos depois (tempo que demora em média a placenta para nascer) e não 15 segundos depois. Explique isso desde a gestação para todo mundo que vai estar presente (família, filhos maiores, doula, fotógrafa, qualquer ser humano) e peça colaboração.

  4. Converse com os presentes também sobre o quanto é importante que o bebê fique PELE A PELE com a mãe até que a placenta nasça. Bebê é lindo, cheiroso, gostoso, dá em todo mundo vontade de pegar, mas até que a placenta nasça, lugar de bebê é PELE A PELE com a mãe. Isso facilita a transição do bebê, mas, principalmente, protege a mãe de hemorragia e retenção placentária. Se der para não cortar o cordão até que a placenta nasça, melhor. Assim o bebê não terá como sair de perto da mãe mais do que alguns centímetros. Todos, inclusive o pai, irmãos mais velhos, aquela avó querida, terão que esperar. E é claro que vão entender, já que é para o bem de todos e felicidade geral da nação (menos necessidade de procedimento invasivo, transferência, medicamentos, menos complicações graves, um pós-parto mais tranquilo etc.).

  5. Se é para estar presente no parto, tem que ser para ajudar, não para atrapalhar. Se as pessoas forem informadas da importância desses cuidados, é mais fácil que elas entendam por que foram deixadas de fora do quarto durante tanto tempo, por que não puderam dar a notícia praquela pessoa tão íntima ou por que talvez a equipe dê certas orientações e faça certos pedidos. São as outras pessoas que vão ter que dar conta da campainha tocando, de silenciar os telefones, de atender os filhos mais velhos, de prestar atenção no que está incomodando a paz e o sossego da mulher para que ela complete seu “trabalho de parto” (que só acaba quando a placenta nasce), entre outras atividades super nobres e que serão lembradas com carinho para sempre (se não pela mulher, que talvez nem se dê conta, pela parteira com certeza, hahahaha). Educação perinatal também envolve os outros membros da família. E tentar essa conversa durante a gestação é uma ótima forma de testar se aquelas pessoas estão realmente conectadas com suas ideias de parto. Se não houver abertura, se houver constrangimento ou oposição, pense duas vezes.

  6. O parto só acaba quando a placenta nasce. Eu já disse isso?

Mari Hart Photo & Soul

(Foto Mari Hart - Photo & Soul)

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